A revolução do cuidar: o que as mulheres nos ensinam todos os dias
Cuidar é uma ação essencial para a vida, mas que, contraditoriamente, segue sendo desvalorizada, invisibilizada e subestimada em nossa sociedade. Basta observar: quem cuida de crianças, de idosos, da casa, dos afetos, da saúde mental nas famílias e nas organizações? Em sua imensa maioria, são mulheres — e, muitas vezes, mulheres negras e periféricas, mal remuneradas ou sequer reconhecidas por esse trabalho.
Vivemos em uma cultura que valoriza o desempenho, a produtividade, o controle e o lucro. Nessa lógica, o cuidado é visto como algo “natural”, instintivo, não técnico. E justamente por isso, não é considerado uma competência profissional ou estratégica. Mas é. E precisa ser.
Cuidar exige tempo, escuta, presença, empatia, paciência, observação, delicadeza e firmeza. É um exercício profundo de conexão com o outro e consigo mesmo. Exige priorizar o bem-estar coletivo, tomar decisões éticas e sustentar vínculos, mesmo diante de conflitos e cansaços. Cuidar é, acima de tudo, um ato de responsabilidade e de coragem.
Como bem disse a psicanalista, mestre e doutora em Psicologia pela USP, Vera laconelli: “Mulheres são criadas para cuidar em uma sociedade que despreza a ética do cuidado, mas não pode prescindir dela sob pena de sucumbir.”
Mas o que o cuidado nos ensina? Nos ensina que relações sustentáveis importam tanto quanto resultados. Que nenhuma tecnologia substitui um olhar atento. Que a vida tem ritmo, e respeitar esse ritmo é uma sabedoria — não fraqueza. O cuidado nos ensina sobre limites, sobre presença real e sobre o impacto das nossas ações nos outros.
Na verdade, as habilidades desenvolvidas por quem cuida são justamente as mais procuradas no mundo do trabalho hoje: inteligência emocional, cooperação, empatia, escuta ativa, flexibilidade, gestão de conflitos. Todas elas nascem e se aprimoram no exercício contínuo de cuidar — da casa, dos filhos, dos colegas, da equipe, do ambiente.
Está na hora de olhar para o cuidado com o valor que ele realmente tem. Ele não é “trabalho menor”. Ele é fundamento da vida e base para qualquer transformação social ou organizacional duradoura.
Talvez o maior desafio da nossa sociedade seja justamente esse: reconhecer o que sempre sustentou o que há de mais importante.
Luciana Almeida, consultora e sócia da TGI Consultoria
Descubra mais sobre
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.