Iza do Amparo celebra 40 anos em Olinda expondo série iniciada nos anos 70
Uma dezena de obras geradas pela fertilidade criativa de Iza do Amparo estará em exposição, a partir deste sábado (24), às 18h, quando abre a mostra “Artista-Menor Iza do Amparo: A Vida que se Desdobra em Mais Vida”, no Museu Regional de Olinda (Mureo). Ela encerra um ciclo de exposições que comemoram os 40 anos do Ateliê Iza do Amparo, importante berço da Olinda dos ateliês artísticos, como o Sítio Histórico da cidade é hoje conhecido.
As obras que Iza do Amparo vai expor são parte da série “Sistemas”, que consiste em trabalhos em que ela varia geometria e assimetria, algo que ela desenvolve desde o início da carreira, ainda na Bahia, na década de 70, antes de se estabelecer em Olinda. Algumas dessas obras pertencem ao acervo da Número Galeria, do marchand Eduardo Gaudêncio, de quem a artista é parceira desde 2015. A galeria também assina o projeto expográfico da mostra.
“Essa série marca a minha unidade como Maria Luiza [a pessoa, no registro] e Iza [a artista, na obra], e é também uma passagem: elas correram paralelas e juntas, tangenciando-se algumas vezes, distanciando-se em outras. Mas, a série me tirou a identidade única. Eu sou duas. E sou uma”, conta Iza do Amparo, que costuma dizer, ainda, que ela é a própria casa-ateliê que, em 2022, completou quatro décadas de portas abertas e constante fruição artística.
“Eu passei muitas horas da minha vida aqui dentro, ela cuidando de mim, eu cuidando dela”, diz Iza. “O traço da minha linha do tempo em Olinda está nesta casa e em tudo o que ela, como aconchego para outras pessoas. Ela está sempre no mesmo lugar e com os mesmos hábitos.”
Nascida Maria Luiza Mendes Lins, na Fazenda São Bento, no município de Conde, Norte da Bahia, entre os dias 5 e 7 de setembro de 1946, Iza do Amparo chegou a Olinda em fevereiro de 1982, com o então companheiro, o artista Humberto Magno (1954-2021), e juntos fundaram a casa-ateliê. Era um momento efervescente nas artes plásticas em Pernambuco – especialmente, no Sítio Histórico de Olinda, onde estavam estabelecidas dezenas de ateliês.
Iza do Amparo e Humberto Magno, ao lado de nomes como Ismael Caldas, Jairo Arcoverde e Montez Magno, eram participantes de um grupo, que, nas palavras do artista Raul Córdula, “contestaram o status quo da elite da arte no Recife”.
Curadore de “Artista-Menor Iza do Amparo: A Vida Que Se Desdobra em Mais Vida”, Ana Gabriella Aires relaciona “os pequenos gestos” de Iza, os gestos cotidianos, como “colar, dobrar, pintar”, de improviso e repetição, com os quais esta “artista-menor” empreende suas obras, a um projeto de vida que contraria a ambição pelo maior, formado desde a infância da artista, vivida à beira do rio Itapicuru, na Bahia. Uma vida que, já ali, se desdobrava com o que se tinha à mão e com as próprias mãos, de forma concreta. Daí o verso do poema “Cão sem Plumas”, de João Cabral de Melo Neto, no título da mostra.
40 anos de uma casa-ateliê
Há mais de 40 anos, Iza do Amparo é matriarca de uma casa-ateliê onde em todo esse tempo seus moradores (se) criaram e (se) criam compartilhando experimentações artísticas. Uma casa também de portas abertas para a rua e lembrada por seus frequentadores como um lugar de acolhimento, fruição artística e referencial na vida cultural do Sítio Histórico de Olinda.
A celebração deste tempo — que, mais do que um bom punhado de anos, significa uma trajetória longeva de criação na convivência com os outros — se dá com o circuito “Da Casa-Ateliê de Artistas-Etcétera ao Agora: Duas Gerações, Quatro Desdobramentos”, que estreou em julho de 2024, com a mostra “Artista-Cientista Paulo do Amparo: Das Manufeituras à Zoada do Teu Momento”.
Em outubro, o circuito deu continuidade com a mostra “Artista-Prática Catarina DeeJah — De Que País Vem Este Carnaval? Se o Oriente Nasce em Meu Quintal”. E em janeiro foi a vez de exibir “Artista-Reincidente Humberto Magno: Vestígios de Estranha Civilização” sobre o trabalho do artista com quem Iza do Amparo gestou e criou seus filhos e o ateliê — quando juntos chegaram a Olinda, em 1981.
Curadora do projeto, Ana Gabriella Aires enfatiza que este circuito é “uma oportunidade de conhecer ou rever Iza, Humberto, Paulo e Catarina em quatro exposições articuladas pelo que são eles de artistas-etcétera. E o quanto isso que, parece, sempre foram e vão juntos sendo, vai-se transformando pelo que conviveram ou convivem, família que são”.
Ela explica o nome do projeto: “Artista-etcétera, conceito emprestado do artista, escritor, curador e crítico Ricardo Basbaum, refere-se à situação do artista que ‘questiona a natureza e a função de seu papel como artista’ e que possui ‘fortes ligações com os circuitos locais em que estão inseridos’”.
SERVIÇO
“Artista-Menor Iza do Amparo: A Vida que se Desdobra em Mais Vida”
Abertura: dia 24 de maio, das 18h às 21h
Visitação: até 22 de junho — de terça a quinta, das 14h às 16h; com monitoria de quinta a domingo, das 14h às 16h
Onde: Museu Regional de Olinda — Rua do Amparo, 128, Sítio Histórico de Olinda
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