Saúde

Quando a festa vira sobrecarga: por que o fim de ano pode ser difícil para neurodivergentes

Luzes intensas, fogos de artifício, mudanças na rotina e refeições diferentes podem gerar desconforto sensorial e emocional. Especialistas explicam como adaptar o ambiente, acolher seletividades e garantir celebrações mais respeitosas

O período de Natal e Réveillon costuma ser marcado por encontros, estímulos visuais, sons altos e mudanças de rotina. Para pessoas neurodivergentes, essa combinação pode desencadear ansiedade, irritabilidade e crises sensoriais. A psicóloga Paula Chaves, gestora técnica da Clínica Mundos, explica que a época merece atenção redobrada.

“É um período que foge completamente da rotina da criança. As luzes, os sons, as pessoas e a imprevisibilidade podem gerar uma sobrecarga de estímulos, para quem tem hipersensibilidades sensoriais”, afirma.

Seletividade alimentar: o que é e como lidar durante as ceias

A ceia de Natal costuma trazer pratos novos ou pouco familiares, o que pode gerar desconforto. A seletividade alimentar, comum no espectro autista, não é frescura nem birra. Envolve rejeições sensoriais ligadas a cor, cheiro, textura, temperatura ou formato dos alimentos. Paula Chaves reforça que a família deve evitar pressões. “A criança autista não recusa por teimosia. Ela recusa porque aquele alimento pode ser sensorialmente aversivo. É fundamental respeitar e oferecer opções conhecidas ao lado dos pratos da ceia”, orienta. Dicas práticas incluem levar a comida que a criança aceita, apresentar novos alimentos sem obrigatoriedade e evitar comentários que gerem exposição.

Fogos de artifício: como proteger e minimizar o desconforto

O barulho dos fogos é um dos maiores gatilhos sensoriais para autistas e outras neurodivergências. A antecipação do ruído, o susto e a intensidade sonora podem causar crises. Segundo Paula Chaves, planejar com antecedência é essencial: “Avisar que os fogos vão acontecer, mostrar previamente imagens e vídeos de fogos, usar abafadores auditivos e criar um espaço seguro durante os ruídos faz toda diferença. O importante é mostrar que ela está protegida e que está tudo bem”. Uma alternativa é permitir que a criança fique em um quarto mais escuro, com música suave ou atividades de conforto, como brinquedos sensoriais, desenhos ou tablets.

Luzes, piscas e ambientes superiluminados: quando o brilho vira desconforto

O fim do ano acende vitrines, fachadas, shoppings e festas com luzes pulsantes e estímulos visuais fortes. Para neurodivergentes com hipersensibilidade visual, isso pode ser cansativo e até doloroso. “As luzes intermitentes são muito desafiadoras. É importante evitar locais com excesso de brilho ou entrar apenas por pouco tempo, sempre observando os sinais de desconforto da criança”, explica a psicóloga. Em casa, priorize iluminações mais suaves e evite manter o pisca-pisca em modo piscante.

O que fazer?

Crises podem acontecer mesmo com preparo, e nesse momento a resposta do adulto é decisiva. O ideal é retirar a criança do ambiente estimulante e acolhê-la sem repreender, sem pedidos para ela “se comportar”. “A crise não é escolha, é sobrecarga. Acolher, respirar junto, usar compressão profunda e reduzir estímulos costumam ajudar muito. O erro é tentar racionalizar a crise na hora da explosão emocional”, destaca Paula Chaves.

Empatia é indispensável: respeitar limites transformar festas em momentos seguros

As festas não deveriam ser momentos de imposição, mas de adaptação e acolhimento. Respeitar o ritmo da criança, permitir que ela participe só do que for confortável e explicar aos familiares sobre a neurodivergência ajuda a evitar julgamentos. “Quando a família entende que neurodivergência é um modo de perceber o mundo, fica mais fácil ajustar expectativas e criar celebrações realmente inclusivas”, afirma a psicóloga.

Como tornar Natal e Réveillon mais acolhedores para autistas

• Permita que a criança participe no tempo dela.
• Leve alimentos seguros e familiares para a ceia.
• Evite luzes piscantes e ambientes muito iluminados.
• Tenha abafadores auditivos para os fogos.
• Prepare um “refúgio sensorial” com poucos estímulos.
• Antecipe o que vai acontecer e explique com calma.
• Não force contato físico, fotos ou interações.
• Respeite sinais de cansaço e irritação.
• Acolha crises sem broncas ou julgamentos.

Celebrar o fim do ano com crianças e adolescentes neurodivergentes é possível, desde que as festas sejam pensadas com sensibilidade e respeito. Ajustar expectativas, preparar o ambiente e acolher as necessidades sensoriais transforma o Natal e o Réveillon em momentos verdadeiramente inclusivos. Empatia é o elo que garante que todos, autistas ou não, vivam as tradições de forma segura, leve e feliz.

A CLÍNICA MUNDOS
Espaço de acolhimento para tratamento terapêutico multidisciplinar para neurodivergentes, a Mundos possui clínicas no Recife (Ilha do Leite, Agamenon Magalhães e Boa Viagem), Olinda, Carpina, Vitória de Santo Antão e em Caruaru, no Agreste. A equipe terapeuta multiprofissional é formada por psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicomotricistas, psicopedagogos, fisioterapeutas, nutricionistas e musicoterapeutas.


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