Saúde

Saúde Bucal e Saúde Mental: Uma conexão além do sorriso

O mês de setembro é marcado pela campanha do Setembro Amarelo, dedicada à conscientização sobre a prevenção ao suicídio e à promoção da saúde mental. Nesse contexto, uma questão merece atenção: a relação estreita entre saúde bucal e saúde mental. Problemas odontológicos podem impactar diretamente o bem-estar emocional, enquanto condições como depressão e ansiedade podem agravar complicações bucais, como explica a dentista Fernanda Mourato.

“Problemas bucais podem afetar a autoestima, a autoconfiança e a qualidade de vida do paciente. Dores constantes, mau hálito ou a perda de dentes, por exemplo, podem levar a sentimentos de vergonha, isolamento e até depressão”, afirma a dentista. “Além disso, o sorriso é uma parte essencial da expressão facial, e problemas odontológicos podem impactar negativamente as interações sociais, agravando questões emocionais.”

A saúde bucal não se restringe apenas à aparência dos dentes, mas é parte fundamental da saúde geral. O relatório mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que 3,5 bilhões de pessoas, ou seja, quase metade (45%) da população mundial, sofrem de doenças bucais. Problemas bucais, como cáries, gengivite e perda dentária, podem levar à dor crônica, dificuldades de alimentação e constrangimento social, contribuindo para o desenvolvimento ou agravamento de transtornos mentais, como depressão e ansiedade.

A relação inversa também é evidente: condições como depressão e ansiedade podem levar à negligência dos cuidados bucais. A ansiedade, por exemplo, está associada a hábitos nocivos como o bruxismo, o ato de ranger os dentes, que pode causar desgaste dentário, dores faciais e distúrbios na articulação temporomandibular (ATM).

O dentista, por estar em contato regular com seus pacientes, pode desempenhar um papel importante na identificação de sinais de problemas de saúde mental. “Mudanças no comportamento de higiene oral, sinais de bruxismo, erosão dental inexplicada ou lesões auto-infligidas na cavidade oral podem ser indicativos de condições emocionais alteradas. Em caso de suspeita, o dentista pode orientar o paciente a buscar apoio psicológico, trabalhando de forma integrada com outros profissionais de saúde”, explica a dentista, sócio do Atelier Oral Fernanda Mourato, localizado no RioMar Trade Center, no Pina, Zona Sul do Recife.

Para quem está passando por dificuldades emocionais, é vital não negligenciar a saúde bucal. “Mesmo em momentos de dificuldade, é importante manter uma rotina mínima de higiene oral. A escovação e o uso de fio dental podem prevenir complicações mais graves”, conclui Fernanda Mourato.

5 PERGUNTAS – FERNANDA MOURATO, dentista

De que maneira condições como depressão e ansiedade podem influenciar a saúde bucal? Pacientes depressivos têm mais chance de desenvolver cáries e outras complicações?

Pacientes com depressão, por exemplo, podem negligenciar a higiene oral, resultando em maior acúmulo de placa bacteriana, cáries e doenças gengivais. A ansiedade pode levar ao bruxismo, uma condição que causa desgaste dental e dores na mandíbula. Além disso, alguns medicamentos utilizados para tratar essas condições podem reduzir a produção de saliva, aumentando o risco de cáries e infecções orais.

O estresse também pode desencadear transtornos?

Sim, o estresse é um dos principais fatores desencadeantes do bruxismo, que é o ato de ranger ou apertar os dentes de forma involuntária. O bruxismo pode ocorrer durante o sono ou enquanto a pessoa está acordada, e pode causar desgaste nos dentes, dores musculares na face e até mesmo problemas na articulação temporomandibular (ATM). 

E sobre transtornos alimentares, como anorexia, bulimia e compulsão, eles também afetam a saúde bucal?

Transtornos alimentares como anorexia e bulimia têm um impacto devastador na saúde bucal. Pacientes com bulimia podem sofrer erosão dental severa devido ao ácido gástrico que entra em contato com os dentes durante episódios de vômito. Além disso, a anorexia pode levar a uma deficiência nutricional, que afeta a saúde das gengivas e dos dentes. O ato de purgar, a ingestão excessiva de alimentos açucarados ou ácidos durante episódios de compulsão também agravam o risco de cáries e outras complicações.

Quais orientações você daria para pacientes que estão passando por problemas emocionais e que, por isso, podem estar negligenciando sua saúde bucal?

Mesmo em momentos de dificuldade, é importante manter uma rotina mínima de higiene oral, como escovar os dentes após as refeições e usar fio dental. Se o paciente estiver tomando medicamentos que causam boca seca, deve-se incentivar a hidratação e o uso de produtos específicos para estimular a saliva. Além disso, buscar apoio emocional e comunicar ao dentista qualquer dificuldade enfrentada é crucial para prevenir complicações bucais.

Você acredita que a integração entre dentistas e profissionais de saúde mental poderia trazer benefícios para o paciente?

Com certeza. A integração entre dentistas e profissionais de saúde mental pode trazer grandes benefícios para o paciente, possibilitando um tratamento mais eficaz. Essa abordagem colaborativa permite que os profissionais identifiquem e tratem questões que afetam tanto a saúde bucal quanto a saúde mental, promovendo o bem-estar geral do paciente.

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