O novo mundo híbrido: entre conexões, rupturas e a urgência de um redesenho do futuro
Quais desafios o mundo, o Brasil, o Nordeste, Pernambuco e o Recife enfrentarão em 2026? Diante de um cenário que se projeta para um novo tempo de sobreposição de antagonismos — em que opostos antes bem definidos passam a se misturar e se confundir, como o real e o virtual, o público e o privado, o fato e a opinião —, estamos diante de um novo mundo híbrido. No evento Agenda TGI | Painel 2026, que conduzi ao lado do meu sócio Fábio Menezes, no último mês de novembro, revelamos mais do que tendências: apresentamos um alerta sobre a complexidade crescente de um planeta em transformação acelerada. Fizemos um balanço de como foi o ano de 2025 no mundo, no Brasil, em Pernambuco e no Recife, sobretudo na política e na economia; e também apontamos para 2026 com projeções sobre como será o novo ano.
O novo mundo híbrido aparece como tema a partir de uma inquietação nossa diante do cenário global, marcado por novas e exigentes variáveis críticas. Um mundo que enfrenta o aumento das temperaturas provocado pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas; uma economia caracterizada pela desglobalização; uma geopolítica impactada pela nova Guerra Fria; e um novo tempo da Inteligência Artificial em todos os setores.
Estamos diante de uma dualidade que se instalou definitivamente, traduzida por alguns como “figital”, a junção do físico e do digital. Um hibridismo que aparece em vários aspectos, inclusive em guerras travadas tanto pelos modos tradicionais quanto pelos híbridos. O avanço da Inteligência Artificial e seu uso na manipulação e propagação da desinformação também têm deixado o mundo em alerta. Deepfakes e notícias enganosas representam um sério risco para a integridade da informação.
No panorama global, a ascensão internacional de projetos políticos como o de Donald Trump, com seu controverso Projeto 2025, demonstra como o clima internacional se desloca para lógicas de nacionalismo e ruptura institucional. Não se trata apenas de mudanças administrativas, mas de uma reorganização profunda da forma como os países se relacionam e como as democracias se sustentam. Soma-se a isso o seu peculiar modo de atuar, que inclui a desconsideração da organização militar e a promoção de uma guerra tarifária — um verdadeiro furacão. Outro ponto que merece atenção é a desglobalização, processo que reduz a interdependência econômica e social entre os países, revertendo as tendências da globalização.
No que diz respeito ao Brasil, destacamos duas questões muito importantes. A primeira é o fechamento da janela demográfica: o país corre o risco de envelhecer antes de enriquecer, devido ao rápido processo de envelhecimento da população. Por isso, precisamos estar atentos e pensar políticas públicas com esse olhar. O segundo ponto é o risco de o país se transformar em um narcoestado, em virtude das facções criminosas que atuam de forma intensiva e ameaçam o país com o avanço do crime organizado. Esse problema precisa ser enfrentado de forma coordenada pela União, envolvendo todos os níveis da federação. São facções que vêm assumindo negócios para lavar dinheiro do crime e se fortalecem como instituições. É necessária uma ação urgente, antes que o país chegue ao nível que chegaram países como Colômbia e México.
Quando tratamos de Pernambuco, a TGI está há 30 anos desenvolvendo pesquisas com ênfase recente no projeto Pernambuco em Perspectiva, composto por uma série de eventos que respondem à necessidade de redesenho do modelo de desenvolvimento, permitindo um entendimento mais profundo da realidade do Estado. O modelo de desenvolvimento pernambucano, concebido em meados do século XX pela Codepe (Comissão de Desenvolvimento de Pernambuco) e pelo Padre Lebret, mostra, após todos esses anos, sinais claros de esgotamento — mesmo com a criação de Suape, a cereja do bolo do modelo industrial-portuário projetado e, hoje, esgotado.
No olhar para o Recife, destaca-se, na nossa opinião, o lançamento do plano estratégico para o centro da cidade, intitulado Centro do Recife na Rota do Futuro, o projeto mais estruturado para a região central desde a inauguração da Avenida Guararapes (na década de 1940) e indispensável para a recuperação do Centro. Outro destaque relacionado ao Recife é o Plano Recife 500 Anos, no qual se inserem outras iniciativas, como o Parque Capibaribe e o projeto Recife Cidade Parque — Plano de Qualidade da Paisagem realizado pela UFPE em convênio com a Prefeitura do Recife, cujo objetivo é transformar a capital pernambucana em uma cidade-parque até o ano de 2037 quando ela completará 500 anos na condição de capital mais antiga do Brasil.
Francisco Cunha, consultor e sócio fundador da TGI Consultoria.

Descubra mais sobre
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.
