Não acalme seu filho com “VIDEOZINHOS” no celular
A síndrome de Burnout é um distúrbio psíquico causado pelo excesso de preocupações, estresse prolongado ou esgotamento mental. O transtorno pode ocorrer em todas as faixas etárias, inclusive na fase da primeira infância, que vai desde o nascimento até os 6 anos de idade. Este período é crucial para o desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social da criança, pois é quando ocorre o amadurecimento cerebral do indivíduo, a aquisição dos movimentos, o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem e a iniciação das relações sociais e afetivas.
Apesar de tudo nos levar a crer que o esgotamento mental não atinge crianças, o Burnout digital infantil é um fenômeno crescente, impulsionado pelo aumento do tempo de uso de tela e dos dispositivos digitais para lazer, estudo e interação social. No entanto, ainda não existe um percentual global único e consolidado que quantifique exatamente o número de crianças no mundo que são atingidas pelo esgotamento digital, pois os estudos variam em metodologia, faixa etária e definição do problema.
Porém, estudos apontam que entre 16% e 29% das crianças e adolescentes relatam impactos negativos no uso excessivo de dispositivos tecnológicos. Um levantamento global do Unicef indica que uma em cada sete crianças e adolescentes (aproximadamente 14%) sofre com algum desafio de saúde mental relacionado ao ambiente digital, incluindo aí o esgotamento. No Brasil, levantamentos mostram que 93% das crianças e adolescentes estão online, sendo que muitos ainda relatam a grande quantidade de possibilidades de exposição a riscos.
O aumento dos transtornos mentais, como ansiedade e depressão, entre crianças conectadas, foi de mais de 100% segundo análises internacionais, mas é importante destacar que o percentual exato pode variar conforme o país, de acordos com os critérios para se definir o “esgotamento digital”, e também com as legislações que determinam a partir de quantos anos uma criança tem permissão para usar tais dispositivos.
Os sintomas mais comuns apontados pelos estudos internacionais e nacionais falam de cansaço excessivo, tontura, dor de cabeça, irritação nos olhos, dor na barriga, distúrbios no sono, estresse, queda no rendimento escolar pela falta de concentração, ansiedade, mudança comportamental, alteração de humor, pessimismo, baixa autoestima, apatia e até agressividade. Todos esses sintomas impactam na vida cotidiana dessas crianças com grande possibilidade de tornarem-se um obstáculo significativo para o desempenho pedagógico delas, porque essa sobrecarga também vem da combinação de cobranças familiares e do excesso de tarefas escolares.
O psicanalista e escritor Ton Costa, hoje com mais de 200 mil seguidores no Instagram, relata o caso de uma criança que, ao passar horas em contato com as telas, teve um surto repentino e quebrou muitos objetos dentro da própria casa. Tal episódio ocorreu aqui no Brasil, já em 2023. Segundo ele, crianças que usam telas diariamente apresentam alterações na estrutura cerebral, com afinamento do córtex pré-frontal, a região responsável pelo raciocínio crítico e a linguagem. “O cérebro está sendo corroído pelo excesso e telas, e o resultado disso são mais e mais casos de TDAH, crises de ansiedade, automutilação, baixo controle emocional”, alerta; e ressalta que o tempo de tela substitui o vínculo familiar.
É importante destacar que a busca online por termos relacionados à síndrome de Burnout aumentou 37% entre janeiro e julho de 2024, demonstrando o crescimento da preocupação com essa condição.
“O caminho para prevenir que a criança chegue ao estágio de necessitar de tratamento ou até de se afastar do ambiente escolar e do convívio social, é equilibrar estudo e lazer, garantir pausas, incentivar a prática de exercício físico e de atividades ao ar livre, manter a rotina de sono e alimentação e disciplinar a criança para atender a horários e normas necessárias ao convívio social saudável e harmonioso”, explica a psicopedagoga Sandra Kattah, sócia-diretora da Educação Infantil da Escola Vila Aprendiz, localizada em Boa Viagem, na zona Sul do Recife. Ela ainda acrescenta que o apoio da escola e da família é imprescindível! “Isso requer atenção redobrada para preservar a saúde mental das crianças”, alerta.