Redes sociais e polarização: o impacto no debate público brasileiro
Nos últimos anos, o Brasil tem vivenciado uma crescente polarização política, intensificada pelo uso das redes sociais. Plataformas como X (antigo Twitter), Instagram, Facebook e TikTok se tornaram espaços centrais de expressão e debate — mas também de conflitos, desinformação e radicalização.
Esse fenômeno não é exclusivo do cenário brasileiro, mas ganhou contornos particulares nos últimos ciclos eleitorais. A partir de 2018, as disputas políticas passaram a ocupar com mais força os ambientes digitais, influenciando diretamente o clima social e as relações interpessoais.
Segundo a socióloga e pesquisadora digital Helena Brandão, “as redes sociais ampliam a exposição a conteúdos alinhados às preferências dos usuários. Isso cria bolhas de opinião que reforçam certezas e dificultam o diálogo com o diferente”.
A lógica dos algoritmos, que prioriza o engajamento, tende a valorizar publicações com alto apelo emocional — como indignação, ironia e choque. Isso contribui para a viralização de conteúdos polarizadores e, em muitos casos, substitui o debate construtivo por ataques pessoais e desqualificações.
Termos pejorativos e rótulos ideológicos tornaram-se comuns nas redes, e expressões ofensivas passaram a ocupar o lugar de argumentos. A radicalização digital não apenas afeta o debate público, como também tem impacto direto em amizades, ambientes de trabalho e até dentro das famílias.
Diante desse cenário, cresce a discussão sobre o papel das instituições e das plataformas digitais na mediação do conteúdo online. Propostas de regulação vêm sendo apresentadas por diferentes setores, com argumentos diversos. De um lado, há quem defenda medidas para conter abusos e desinformação; de outro, há críticas sobre possíveis riscos à liberdade de expressão e ao pluralismo de ideias.
O Projeto de Lei apelidado de “PL das Fake News”, que pretende estabelecer diretrizes para a atuação das plataformas em relação a conteúdos considerados ilícitos, exemplifica esse impasse. A proposta divide opiniões entre juristas, especialistas em tecnologia e representantes da sociedade civil, refletindo a complexidade do tema.
Para muitos usuários, a solução tem sido o distanciamento. Há um movimento crescente de pessoas que reduzem o uso das redes ou evitam se posicionar sobre política em ambientes digitais. A estudante Carolina Souza, de 24 anos, afirma que prefere não comentar mais sobre assuntos políticos em seus perfis. “Sempre que falo alguma coisa, vem uma enxurrada de críticas. Já deixei de seguir amigos por causa disso”, conta.
Apesar dos desafios, também é possível observar aspectos positivos. As redes sociais têm permitido que causas sociais, ambientais e cívicas ganhem visibilidade. Movimentos locais e nacionais encontram nelas um canal importante de mobilização e engajamento direto com o público.
O desafio para os próximos anos será construir um ambiente digital mais saudável, onde o diálogo seja possível mesmo em meio às divergências. “As redes podem ser ferramentas poderosas de participação democrática, desde que usadas com responsabilidade e abertura ao diálogo”, afirma Helena Brandão.
Com as eleições gerais marcadas para outubro de 2026 — quando os brasileiros escolherão presidente, governadores, senadores e deputados —, o ambiente virtual tende a ganhar ainda mais relevância. O equilíbrio entre liberdade de expressão, responsabilidade informacional e convivência democrática será fundamental para garantir um processo eleitoral plural e transparente.