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Março: mês de esperançar

Março. Este mês, para mim, inicia-se com o 08 de março, dia escolhido, em 1975, pela ONU para ser o Dia Internacional da Mulher. A escolha do dia já remete a dor, a luta e garra das mulheres russas que ousaram ao se rebelar com a greve das operárias de 1917, que foi com sangue reprimida.

Talvez por esse nascedouro violento ou pela dificuldade que é fazer da pauta de gênero e raça uma questão central dos direitos humanos, muitos reduzem março ao combate às violências contra as mulheres ou às questões tidas como de feminilidade fútil. Mas, me recuso a me conectar apenas pela dor! Quero me conectar pelo esperançar!

O esperançar freireano que nos convida a nos animar com os avanços, ainda tímidos, que tivemos nos últimos anos na legislação brasileira. Sim, ser mulher, em uma sociedade machista e patriarcal, é um caminhar cheio de adversidades, cheio de desafios e dores peculiares; mas, não vamos jogar os holofotes para as vicissitudes de ser mulher, miremos na beleza das cores, brilhos, criatividade e coragem que circundam o universo feminino. Olhemos a evolução das leis de proteção às mulheres.

Se até 1916, o marido podia aplicar castigos físicos à sua esposa; e até 2005, o termo “mulher honesta” habitava no código penal; em 2023, o STF firmou entendimento que não é razoável a advocacia usar o argumento de defesa legítima da honra para os casos de feminicídios. Avanço! O CNJ elaborou o Protocolo de Julgamento com perspectiva de gênero para combate às violências e disparidades dentro dos processos.

Na última década, contabilizamos avanços. Em 2012, a Lei Carolina Dieckman regulamentou a questão dos nudes. Em 2018, importunação sexual passa a ser crime. Em 2022, o assédio tem que ser combatido dentro das empresas (lei emprega mais mulher). E em 2023, Não é não virou legislação! Não basta sermos encaixadas neste jogo patriarcal e masculinista. Queremos construir um mundo adequado às mulheres!

Buckminster Fuller tem uma fala incrível: “Você nunca muda as coisas lutando com a realidade existente. Para criar algo, crie um novo modelo que torne o atual obsoleto”.

Desejamos um mundo não de supremacia feminina, mas de igualdade entre homens e mulheres. Um lugar que respeite pessoas diversas, plurais e heterogêneas. Um local que não fomente a rivalidade feminina; que não consigamos tocar apenas nossa bolha; mas, que entendamos que o ser mulher traz muito mais em comum. É nosso papel, nossa responsabilidade nos unirmos para mudarmos isso!

Ah! Nada contra gentilezas, longe disto, amo girassóis e ouro branco, caso alguém queira me presentear (rs), mas a relevância do 8 de março, forjado em luta e dor, é apontar uma esperança: estamos evoluindo e podemos sonhar.

Isabela Lessa de Azevedo Pinto Ribeiro, mãe de Tobias e Theo, advogada, professora e coordenadora do Curso de Direito da Nova Roma


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