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Desafios e considerações sobre investir no exterior: uma reflexão necessária

No atual cenário geopolítico, a contenda entre Israel e o Hamas parece ter um impacto relativamente limitado no valor do dólar, em comparação a outras potências regionais como o Irã, que potencialmente respalda o conflito. Contudo, não podemos subestimar a influência que o Irã possui ao ter a capacidade de controlar o Estreito de Ormuz, por onde escoa uma parte significativa do petróleo mundial. Tal controle pode, de fato, afetar os preços do petróleo e, consequentemente, o valor do dólar.

Atualmente, observamos uma significativa valorização do dólar, e tudo indica que essa tendência se manterá, principalmente em relação ao real. Este fenômeno é, em grande parte, uma resposta à inflação sem precedentes que a economia americana enfrenta de maneira consistente. Para combater essa inflação, a Autoridade Monetária Americana, representada pelo Federal Reserve, optou por aumentar as taxas de juros, resultando em uma taxa consideravelmente elevada em comparação à média histórica do país.

Por outro lado, o Brasil, sob a liderança do banqueiro central Roberto Campos Neto, adotou uma abordagem contrária, antecipando-se à crise ao reduzir a taxa de juros. Isso coloca o Brasil à frente de muitos outros países em termos da curva de juros. Entretanto, essa disparidade entre os juros nos Estados Unidos e no Brasil gera um cenário de concorrência por capitais estrangeiros. Com os Estados Unidos oferecendo taxas de juros elevadas e o Brasil, por sua vez, diminuindo as taxas, é provável que o dólar se valorize em relação ao real.

Além da questão cambial, é importante considerar a perspectiva de investir no exterior. Embora haja um entusiasmo crescente em relação a essa possibilidade, é crucial analisar objetivamente as implicações disso para investidores individuais, especialmente os de menor porte.

Imaginemos um investidor com um patrimônio de três milhões de reais, a maior parte representada por bens imóveis e outros ativos no Brasil. Nesse contexto, enviar uma parte significativa desse patrimônio para o exterior pode ser uma decisão complexa. A gestão dos ativos, a seleção dos investimentos e as questões fiscais tornam-se desafios consideráveis.

Muitas vezes, somos bombardeados por propagandas e influenciadores que promovem a ideia de investir no exterior como uma solução universal. No entanto, é crucial lembrar que o que funciona para alguns pode não ser adequado para todos. Antes de tomar qualquer decisão, é fundamental contar com a orientação de um profissional de planejamento financeiro, que poderá avaliar suas possibilidades e metas financeiras.

Investir no exterior pode ser uma estratégia valiosa, desde que seja precedido de um plano de vida que o suporte. É essencial estar plenamente consciente dos possíveis impactos dessa decisão e estar preparado para o esforço adicional que isso demanda. Afinal, a busca pela diversificação e segurança financeira deve ser conduzida de forma consciente e bem fundamentada.

Paulo Marostica, planejador financeiro com CFP® (Certified Financial Planner), sócio da Matriz Contábil

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